Por Clara Senra
Quem disse que brincar com comida é errado? Transformar o
prato do seu filho em arte pode ser além de divertido um grande estímulo para a
criançada comer bem.
A arte de esculpir frutas e legumes começou na China há
mais de 2.000 anos para decorar placas e eventos. Na Tailândia, esta arte foi
trazida pela China em 1364, quando uma princesa decorou uma lâmpada flutuante,
usada em uma cerimônia tradicional, com figuras esculpidas em frutas e
vegetais.
Desde então, existe uma diferença entre a China e a
Tailândia em esculpir frutas e legumes: os chineses fazem figuras e imagens
alegóricas de suas histórias e lendas, enquanto os tailandeses fazem mais
flores e decorações principalmente. Consequentemente, hoje esta arte se
transformou em um das artes oficiais, como a pintura, a música, e a dança.
Com base nesta breve história, fundamental para a
gastronomia, vamos ver se é mito ou verdade, se as crianças comem melhor quando
os legumes, verduras e frutas são montados em seus pratos em forma de desenhos,
animais e bichinhos usando somente a criatividade e a imaginação.
É um dilema diário para os pais fazerem com que os seus
filhos se alimentem corretamente. Muitos optam pela velha e boa chantagem para
que os filhos comam mais algumas colheradas. Ameaças para as meninas, do tipo:
“se você não comer a salada, seu cabelo não vai crescer e ficar lindo”. Para os
meninos, é comum dizerem: “se você não comer a salada vai ficar sem vídeo game
por um mês”. Os pais até acham que essa tática funciona mas, na verdade, são
teorias pouco eficazes e acabam gerando um estresse desnecessário entre os
adultos e as crianças, fazendo com que elas tenham aversão a determinados
alimentos. O melhor é apostar em algo novo e criativo para estimular o seu
filho a ter uma vida mais feliz e saudável.
Raquel Hermont, Pedagoga formada desde 2003, nos revela
pontos importantes sobre a importância de estimular a criança na hora das
refeições usando apenas a criatividade.
Raquel nos conta que tudo que uma criança aprende é pelo
estímulo, e com a alimentação não é diferente. A criança gosta do lúdico, da
fantasia, então, apostar nesses requisitos de decorar os pratos com desenhos,
com certeza vai funcionar para a melhora da alimentação do seu filho.
O importante na visão da pedagoga é chamar a atenção,
seja nos formatos, nas cores ou até mesmo na hora de contar histórias. “Faço
isso muito com minha filha, isso ajuda a quem não tem tempo de decorar o prato
com desenhos e formatos; eu falo com ela que a cenourinha, por exemplo, é a
princesa e o castelo é a boquinha dela, e por aí vai, é só os pais terem
imaginação e criatividade” relata Raquel.
Raquel também comenta que hoje em dia é muito comum as
escolas terem o dia da culinária com as crianças. Isso ajuda bastante o
psicológico da criança a associar os alimentos a algo divertido, elas aprendem
de onde os alimentos vêm, aprendem a fazer os seus próprios lanchinhos e isso
ajuda muito no desenvolvimento infantil.
Enfim, na visão da pedagogia, para estimular a criança é
só usar a imaginação, entrar literalmente no mundo infantil, tornando suas
refeições não em algo chato e obrigatório, e sim algo divertido.
Mas, e na visão da psicologia? Entrevistei a Psicóloga
Clarice Ribeiro, formada pela Universidade Federal de Minas Gerais-UFMG desde
1985 e especialista em Psicoterapia Ericksoniana pelo Instituto Milton Erickson
de BH. Com experiência em atendimentos psicoterápicos, psicodiagnóstico,
orientação de pais e orientação profissional, Clarice hoje atua na Clínica
Acompanhar, especializada em crianças e adolescentes.
A especialista revela que criar e montar pratos decorados
com alimentos saudáveis, como legumes e frutas, pode ajudar as crianças a
desenvolverem uma relação positiva com a comida, uma vez que fogem da monotonia
e da mesmice.
Pratos coloridos e que imitam formas (bichinhos,
carinhas, joguinhos), tendem a ser vistos como uma brincadeira. Essa maneira
divertida e lúdica de apresentar os alimentos à criança pequena, cria a
novidade e com ela a vontade de experimentar coisas novas. Crianças tendem a se
manter atraídas e focadas diante do novo, como que querendo descobrir tudo o
que uma nova experiência pode lhes trazer em sensações e prazeres, mas devemos
também nos preocupar com outros fatores. “É bom ter atenção em alguns pontos.
Associado à apresentação do prato, deve-se também ter o cuidado no preparo,
para que as refeições sejam saborosas, para não criar resistências em função de
sabores inadequados ao paladar infantil.
A apresentação visual, colorida e divertida, estimula o
comportamento e a vontade da criança de experimentar novos alimentos, mas a
atitude de continuar a comer esses alimentos saudáveis está também atrelada a
outros fatores como sabores, horários, ambiente tranquilo e organizado na hora
das refeições, incentivos como elogios quando come bem e pais (ou responsáveis,
cuidadores) que também se alimentam de modo saudável, uma vez que crianças agem
muito por imitação”, revela Clarice.
Vimos na opinião da psicóloga dois pontos muito
importantes: aprendemos que a decoração estimula sim a criatividade na hora da
execução do prato de uma criança, mas ela nos explica também que temos que
tomar cuidado para não criar resistência em função dos sabores. “É sempre bom
fazer com que as crianças continuem a comer aqueles determinados alimentos”,
completa.
E qual é a visão de um chef de cozinha? Conversamos com
Carlos Pita, chef há mais de 20 anos e autor de três livros sobre
gastronomia. Hoje ele atua como Personal
Cook e Consultor Gastronômico.
Carlos Pita conta que, quando se trata de estimular a
alimentação das crianças, toda tentativa é valida, e o fundamental é que as
decorações dos pratos sejam feitas com ingredientes que de fato são importantes
na alimentação dos pequenos.
As crianças, assim como os adultos, aguçam o desejo da
alimentação primeiramente pelo sentido da visão. Elas comem com os olhos. Ter
um prato bem elaborado sempre é uma vantagem na hora da refeição, oferecer um
prato decorado sempre estimula uma criança, mas não se pode negar que o risco
dela optar por não desmanchar a decoração existe, mesmo que em proporções
menores e para crianças com idade entre 3 e 5 anos.
“Alimentar bem e ainda se divertindo sempre foi uma opção
válida. Quem não se lembra dos aviõezinhos da mãe, da vovó ou mesmo da titia,
quando diziam: OLHA O AVIÃOZINHO!!!!!! E a comida vinha direto em nossas
bocas.”
Então, papais e mamães aprenderam tudo direitinho? Que
tal agora aprender uma deliciosa e criativa receita e colocar a questão em
prática?
E uma dica muito importante: leve o seu filho para fazer
a receita com você, pois, como vimos na matéria, isso estimula ainda mais as
crianças na hora de aceitar uma nova refeição.
Sanduíche Saudável de Coruja
Ingredientes:
Pão de forma;
Pepino;
Cenoura;
Azeitona preta;
Ovo cozido;
Queijo magro fatiado.
Montagem:
Coloque o queijo no pão e corte o ovo ao meio fazer os olhos da coruja. Corte a azeitona em rodelas e coloque duas sobre as metades dos ovos, e outra rodela cortada na metade para fazer os pezinhos. Corte tirinhas de cenoura e um triângulo para as penas e o bico. Corte uma rodela de pepino ao meio e coloque como se fossem asas.
Coloque o queijo no pão e corte o ovo ao meio fazer os olhos da coruja. Corte a azeitona em rodelas e coloque duas sobre as metades dos ovos, e outra rodela cortada na metade para fazer os pezinhos. Corte tirinhas de cenoura e um triângulo para as penas e o bico. Corte uma rodela de pepino ao meio e coloque como se fossem asas.
Foto: evgenyatamanenko/iStock